Lágrimas de Novembro

Hoje ela disse que tinha medo,
Do outro que havia lhe deixado,
E das palavras seu desespero
De um coração que foi machucado.

Não há cavalheiro neste vil mundo
Onde o que manda é doce pecado,
Nem gentileza, e para o rei tudo
E sem amor tudo está acabado.

Não afogues dentro de ti menina,
Lágrimas, lágrimas do noivado
Um juramento com quem mantinha
Toda confiança nele quebrado.

Agora sim, chegou a tempestade
Vindo soprar a dor neste lado,
Quem te perdeu uma vez tão bem sabe
Que leva a dor de um condenado.

Nesta memória que nos padece,
Em cada verso será marcado:
Tudo tem fim no que envelhece,
Menos a perda de seu passado.

Incontinuidade

Aqui arranca os versos e lançam aos ventos
Talvez alguns podem não compreender
Ao estilo de uma vida simples
Um ambiente de costumes

Ter que se reinventar para ser visto
Pelo menos mais uma vez aqui
Não sei pela qual forma
Apenas sentirei

Um dia, um tempo, uma hora, um momento
Visita-me com seus olhos serenos
Espero ter tido aproximado
Num encontro sem tempo

E por fim,
fina flor
que me deixou
sem amor

Um verseto
de nanquim
finalizou
por aqui:

Esta dor
não se curou
nem passou
nem sumiu

Vida
minha
caminha

Agora
chegou

O fim

Progênie dos Erotes

Na bruma do anoitecer
A lua convida os amantes
Assim declama Rosier
Amor nunca visto antes
O vinho pra embebecer
Com mil prazeres bacantes
Descobrir como viver
Tais momentos cintilantes

E a terceira?

Abre tuas asas: libere teus segredos,
Anseios e medo diz o primeiro.

Conte-me tua história, entre nós, conscientes
Há apenas os seres humanos.

E agora quando o segundo te fere,
A fera te causa ferida, e ainda não se levanta!

Seu coração parece habitado, incrustares
Sem nenhuma alteridade não há arte e além disso...

Gotas da Lua

O céu fica vermelho,
Uma lua de sangue,
Há algo sobre ela
Ao longo de toda uma noite.
São evocadas no canto:
Amor, pode abrir portas.

Determinado ao anoitecer de cada dia,
Uma referência à profecia,
A lua cheia se tornará como sangue.

O seu mundo, suas portas,
Quando uma lua nova aparecer
Eis de corar a rosa branca.

Filósofo e o Fanático

Filosofia é a procura do saber,
Trai a si mesma quando degenera em dogmatismo;
Fazer filosofia é estar a caminho.
As perguntas são mais essenciais,
Cada resposta transforma-se numa nova pergunta.

O fanático está certo de possuir a verdade,
E sucumbe impor sua verdade a outrem.
Acreditando estar com a verdade,
Ele se acredita o proprietário da certeza presa
Das torturas de um ceticismo irremediável...

Expresso de Amor

Ela dança como uma bela flor na brisa
Profunda, imagem em movimento, agita-me;
Não há palavras que traduza essa sensação,
Fui preso neste quadro, uma pintura, paixão?

Definir-se-á como força que toca o meu coração.
Duma pretensa comoção lançada ao som das Cárites,
O tempo quando para é um sintoma, e fica no ar...
Encontremo-nos, só a distância que há entre nós!

Preciso cultivar os versos que brotam nos sonhos,
Imaginar se pode, andar é até fácil, mas e o encontro?
Seja o que for, tão cânticos dias, tão silenciosas noites;
Amar é uma arte para poucos, por isso insisto, isto é viver.

Infanati

Teus beijos são feridas marcadas
Na eterna expectativa, sou tudo ou nada?
Quando muito eu queria passear contigo
Preferiu a imagem rotineira de um outro

Como fitava seus cabelos...
Fingia não ver, vergonha só de encarar.
Seriam os castelos de areia platônico?
Que estranha sensação em ser diferente

Imenso! Imenso! Coração badalado em rosas
Que chato é o papo furado do dia a dia
Em ficar pensando, o sonho era nada
Sou tão egoísta por desejar amor assim?

Crônicas

O tempo é uma projeção não apropriada
Que caiu do céu do pai Cronos.
Mas quem mandou ele engolir o Caos?
E agora sua digestão é organizar cada matéria,
Esta forma aglutinada que deu origem ao mundo.
Toda história que o homem sempre conta
É uma expressão alegórica de explicar
Nossa trajetória que se transforma num mito.

Rouxinol

Hoje na minha janela apareceu
Um rouxinol com canto de brilhar
Asas leves de um anjo, o sol encantar
Era a minha própria sorte?

Tolo, aqui não neva como o norte
E muito diferente do sul, que pena!
A casa no verão me dá solidão
Desejava apenas dormir por dormir...

Perguntei-lhe ao pequeno pássaro
Vale a pena ter vivido assim?
Ele foi embora sem nada dizer
Mas dizem que isso é um bom presságio...

O Infante e a Princesa

Das rosas que coram de amor
A nuvens doces de algodão
Os teus lábios sedentos são
Aos chamados que fogem da dor,

Eis que nos machucam solidão.
Peço ao deus do amor te ver,
Se há alguma bondade em ser,
Reconheço pelo seu próprio coração.

Diga-me com um olhar atento
Tempo voraz, voz do silêncio,
Se é um crime de inocência
Cruzar caminhos que pretendo

Em tal curso do velho Cupido,
Engana-me com teus alvos lúdicos
Brincando com fogo, mas te suplico,
Permite que seja realizado o pedido:

Afasta-nos de todos prantos e angústia
Como também sirva-nos de sua Volúpia.

Água em Vinho

Meu doce e tinto vinho de amor
Embriaga-me tanto este verso
Em busca dos segredos da vida,
Num copo o sabor do universo.
Em vã filosofia me deparo
Com a voz do silêncio deserto,
Isso é um mistério que temos
E que nem tampouco a morte espera.