Snowberry

Ela fugiu para um reino encantado
– Cinderela não fuja do destino!
Na neve cada passo era marcado.

Teimosa descalça, confusa, amava...
Meia noite era impossível voltar
Agora odiaria tudo que sonhava

E tudo vira um passado imperfeito
Né?! Então alguém te espera voltar
Ainda pensando que nada havia feito

Mesmo os fones tamparem qualquer som,
Sua música preferida enterrada
Feche os olhos, se cobre no edredom.

As fotos parecem tão coloridas
Juntos no melhor momento da vida
Sentirá falta das doces mordidas

O futuro distante, não diga: - “ai”!
E tudo vai ser diferente agora?
Lembrará somente daquele “bye bye”...

Outro Verão

No fim de uma tarde as nuvens se põem,
partindo ao mar o amor também foi.
Deixou-me uma carta dizendo adeus,
tornou a saudade numa chuva de verão.

Mais uma noite sem ter meu amor,
contando pra lua a dor que deixou.
Mesmo tão longe eu sinto sua voz,
nossa alma ligada nessa noite de verão.

Mesmo distante, mais um dia sem sol,
além do horizonte te espero meu amor.

Suas Palavras

Em meu templo onde orei os teus versos
Com esses ventos que levam mensagens
Que contemplo esta lua que observamos
Nesta mão que cria contos diversos
Um deserto de densas miragens
Faz das noites de amor que encontramos.

Alegria em que passo a sentir
Teu sorriso tão belo e tão doce
Esse doce que tanto desejo
É um pedaço do céu que está a cair
Mesmo ainda uma noite que fosse
De uma lua com a forma de queijo.

Em meus sonhos segui os teus passos
Pelo menos em sonho alcançar
Afundar nesta doce ilusão
Só desejo encontrar os teus braços
Quando acordo não posso voltar
Os momentos que nunca houve um não.

Do teu Amor

Se esse teu sentimento não é leal
Este ego que guarda contigo
Não pergunte a mim teu coração
Quanto amar necessita ser real
Quanto amor que nos falta, qual digo
Que teu erro seria compaixão.

O que tenho a dizer é o bastante
Já foi feito e não volta aqui mais
As promessas que nunca valeram
Faleceram num caso de amante
Todo amor que não tive, e jamais
Um amor ou paixão voltaram.

Ao dizer do teu amor egoísta
Sua paixão não é do amar verdadeiro
Um amor aos quais todos o sonham
É uma cena da vida que assista
E quem vence nem sempre é o primeiro,
O que eu quero nem todos o alcançam.

Frio

As luzes noturnas que guiam os perdidos
ouvem-se passos de estranhos por aí
a garoa não cessa, a garoa não para, a garoa
ao frio anestesia qualquer um que passa

Na estação dos trilhos de ferro o silêncio
deitado sobre os bancos, sem tatos
dor não clama mais, nem reclama
anestesia de meme é a rotina diária

Sonoros motores digestivos que tremem
as almas podem ir mas o corpo não
ilustram os concretos de todos os lados
petrificam e compõe parte da paisagem

Sob o esmo eterno cai redento em torpe
uma máquina automática subserviente...

Feição

Que diga a primavera, amor no horizonte
Dela vier uma flor que é fonte sagrada
Contudo vem com tudo alma rosada
Tua cruzada um sorriso a quem o defronte

Abre a porta depois de bater alguém
Seria este um ardil, não avisa quem seja
Mas a tua recepção não é de certeza
Olha quem ama nunca sabe o que vem

Atravessa num raio de cor violeta
A noite misteriosa sempre permeia
Uma coruja à vista que há na lua cheia
O reflexo que vira uma borboleta

Enquanto que tem nota que não há tempo
Outro é como a vida em todo lavor
Assim forma harmonia de seu autor
E a musica toca em seu contratempo

Segunda Carta

Depois de caminhar muito meu bem,
Tenho uma bela noite pra sonhar.
Assim mesmo a distância foi também
A causadora em nosso mal estar...

Fecho meus olhos para ter certeza
Que nesse mundo não há nada igual,
Tudo que sinto por alguém seja
Mais verdadeiro do que já é real.

Ah, como quero estar, amor, contando
Sobre meus sonhos que não deixo voar,
A cada parte anoto quase em pranto.

O frio da noite está ferindo tanto,
Mas a saudade vem aqui lembrar
Deste motivo qual estou trilhando.

Solitude a Soneto

Perpétuo como a dor, sentimento vazio
É sempre de um amor que queres consumir;
Não nega dizer te amo para quem partiu
Nem mesmo para tantos que poderá vir.

Se faz dessa virtude o melhor do silêncio
Nesta vida que ilude, vem ser tal quimera,
De palavras que saíram o valor da ausência
Como folhas ao caírem na vil primavera.

Lugar onde fez eco do amigo dúbio,
Apenas um espelho que vem da própria alma
Onde guarda reflexo em força do refúgio,

Parece ser imensa peça de saudade;
É preciso expedir com tempo toda calma
Há aquele que não vença o ser da soledade.

Ficções

As flores, as estrelas, os campos
De belos por encantos de amores
De tempos tão distantes de fados

Somente o gosto perde nas flores
Nem vem, acreditemos nos santos
Paixões de um mal querer sem valores

Nascemos, e vivemos, e vamos
De encontro, e sem encontro se fores
Colher do mesmo fruto sonhamos,

Procura em algum canto favores,
Amores que aparece de tantos
Negando ao seu prazer novas dores

E sempre encontrarás sorriso em meu semblante,
Mas deste fizeram-a máscara das lágrimas...

Noites

Seja minha fonte eterna
Pra que nela acabe a sede,
Minha noite na taberna
Quando a sua bebida pede.

Nota-se quanto te quero
Somente a quero e mais beijos
Desejo infernal venero
Satisfazei meus desejos!

Daquela noite à beça
Talvez nunca mais terei,
Sou feito agora de inveja
Ao outro que se tornou rei

Pra que amo minha amada?
Ser jogado como um lixo
Minha alma sendo julgada
Assim como foi a de Cristo

Nas noites de quando a espero
Este anjo a quem tanto chamo
Não aparece e desespero
E imploro ao dizer que te amo.

Bulle bleue spécial

Bolha azul, uma estrela cadente à vista.
Universo infinito, uma lista sem fim
Ligará um lugar inspirado ao artista,
Libertando-se o nome indizível em quando,
E estaremos aqui, desde sempre um jardim.

Brilho azul, toda vida que está se formando
Lograria mais um pouco do espaço apertado
Em disputa de quem tomará o comando?
Uma nave automática, sem mecanismo
E nem para, nem cansa, é grande este fado!

Sonho azul, que lugar em gracejo num abismo
Pormenor, mesmo em caso o tamanho és linda
É do tempo, é a vida em sua cor, cromatismo!
Cinza soa diferente e tão triste ao painel,
Isso está para o fim, nem que seja bem vinda.
Alguns dizem que o mundo foi sempre cruel,
Lá o céu poucos viram, o azul vive ainda...

Liberte-se

Bem que a vida transforma, deixando sua marca; marcando seu destino...
O segredo é sagrado, o tempo é um legado na mão de um menino,
Reage... Tudo faz parte, – arte bossa-nova – ato de liberdade.
Bossa pra cada verso! Valsa a cada passo com docilidade
O seu olhar, um cegado está fora de estado, e, foi desencantado?
Lei natural da vida quanto mais se escolhe mais vira rotina
Extravase e liberte sua alma sempre um pouco, fuja dessa sina.
Talvez escape às regras contra a correnteza, contrariando o vento,
Ao sentir esse gosto nunca voltará, pois terá desalento.

Incógnito

Como todos sabem, o quanto precisamos dele
Ele é algo necessário em qualquer momento
Único a curar a tristeza, afasta qualquer medo
Aquece no frio, combate o crime, destrói o fel
Em um toque de sua inspiração faz a mágica surgir
Como todos sabem, o quanto precisamos dele
Faz confessar os segredos mais íntimos
Liberta da prisão que não tem grades
Todos o sabem dizer seu suposto nome
Tantos nomes para dar a este desconhecido
Onde muitos falam apenas o que sabem
Mas talvez nunca o tenhamos por sentido
Pois querem sua posse e domínio
Mas é o único estar livre, por isso nos liberta

Presente

A sorte somada à vida, um jogo do destino...
Venhamos à tona a ser doentes aquém jogados.
Em tuas faces as leituras, além de misturas,
Inventam honras e glórias, e maldito hino
Que não acordam, mas levantam pobres tão cansados.

Praças imundas, os porcos adoram enchentes
Sapatos velhos enfrentam a marcha do dia
Em nome da mãe que castra, e do pai que te mata
Aos poucos escutam ordens que vêm das suas gentes
Parelho de tal desgraça, uma doce ironia.

Nas inconstâncias daqueles que merecem dor
São nos egos coletivos das instituições
Que comandam alcateias, não somos plateia,
Nem te revelam segredos do tal escritor.
Na copa vem o cheque-mate das folhas e ações.

Fado

Dourada flor que nasce em cada vida.
Real símbolo do amor, a bela rosa,
Mitos ou contos, és vitoriosa!
Faz do mistério a fauna protegida.

Sol o qual nasce todo dia nos dá
Labores doces para a natureza.
Sinérgica e latente, ou em beleza,
Dormimos com as estrelas sempre lá.

Rente às dificuldades que se encontra,
Minha, a tua, é de todos o dever
Fazer o cumprimento e nada contra.

Solidários, a paz em nossa frente,
Lavraremos o verde a causa ser
Silente é a esta ação, e persistente.

Choque e Espanto

Chove choros, espasmos explosivos
jogos sobre mentiras, climas tensos
seus gritos sujos inundam a atmosfera
queda em queda num ritmo cardíaco

Não feche os olhos pra quem passa
a selva dos insanos afoitam súbitos
em cada lance uma fraude, uma tática
uma hora marcará o teu derramamento

Seu nome se chama medo, territorial
prazer, entrega-me o estresse diário
fuja se não estiver conosco, apague-se
todo nervo assalta a dor invicta

Cada batalha, a bala e a mente, exaustão
o retalho e os dependentes, o controle
um comando especial para a destruição
a arte criminosa que surgiu do inferno

Fim de Outono

Antes de sentir o frio que me espera
mesmo que Junho divida meu ano
partiu do céu um pequeno pássaro
pousaria entre os galhos já sem folhas

Antes o amarelo deitava sobre o chão
as folhas citavam meus caminhos
acabando assim a jornada das colheitas
mas ainda procuro um pomar secreto

Agora os ventos estão diferentes
as noites se tornam mais predominantes
a vida parece tomar um gosto amargo
ainda pouco havia uma graça do calor

Agora estarei mais adormecido
abrigarei entre os sonhos enterrados
espero que antes das flores voltarem
escape de qualquer cicatriz da mudança

O Céu

O coração às vezes nem sabe onde estou
minha lua cheia enche de enigmas
a tua estrela foi a ultima que vi
se a chuva viesse ao menos me esconderia

A mão que criaria os sons dos tempos
não toca mais a tua alma doce
a magia esqueceu do seu ritual
as cores foram borradas nos quadros

A mente obscurecida me engana
joga­me na ilusão dos sentidos
enfrento o pior inimigo da vida
a quem sempre encaro no espelho

Ó alma quem me dera o amor
soubesse a minha língua falar
qual ciência me explicaria melhor
o meu pequeno universo melancólico

E...

Como animal sem barulho não urro...
E se cada instante existo, não me liberto –
A pedra no caminho tem seu triunfo!

Na beira de qualquer coração um subúrbio,
Veja o tampão do dia e os pontinhos noturnos
O sorriso alegre de quem vive preso.

Ei! Preciso me soltar, tira logo eu daqui!
Simplesmente não sinto, sento, santo!
O presente é surpresa se conjugado
Agora!
A hora!
Não pára!

Com tua licença me torno ausência,
Eu – Silêncio! – me tira o acento e faço logo!

Cartas para amada

Cansado, nesta noite minha amada,
Ainda esperança faz parte de mim...
Se for mais um acaso, tenho o nada
Na vasta imensidão não existe o fim.

Minha esperança é tão pequena amor
E tanto espero estar em seus cuidados
Sou fraco, tolo e tenho toda dor
Como uma criança não conhece os atos!

Cada palavra forma em meu recanto
Um ser amargurado contra o tempo,
Se contra o tempo nunca existe um santo.

Como as estrelas tomam seu destino
Meu rumo, minha trilha eu mesmo invento
Mesmo que o mundo seja ainda um perigo.

Sensação

Sabe aquele garoto “keiki”
Talvez é anjo, talvez é menino
Abriu a porta, outra porta e mais outra!
O que importa, só quero daqui
É rimar, e ri mais, com carinho
Versos para uma doida, ah garota...

Ah menina marota o que importa
Estas portas que sempre fecharam,
Um amor quer entrar nesta fresta
E não esconda por trás duma porta,
Estas portas que sempre negaram
Mais um outro convite na festa.

Custa caro o sabor de morango,
Chocolate bem junto na encosta
E juntar num sabor que desejo.
É o sabor deste beijo que gamo,
Se não for pela porta, o que importa!
Entro pela janela e te beijo!

Escuridão

Contei as estrelas numa noite premissa
Tão obscuras como a razão da existência
Se soubesse, não teria motivos, nem encantos
Um simples hábito das inquietas sombras.

Vinde então Vênus, das lágrimas ao sorriso
De alma cândida, aproximou-se ao pé de mim
Alcunhando-me, serenamente, Senhor da Noite
Um dever amargo, se soubesse, melhor não conhecendo

Sou senhor do meu domínio, não da noite
Não há motivos que me põem a outra razão,
Apenas vago, recluso, frio e soturno
Por qual razão maior viria ao meu encontro?

Com poucas palavras ela mudaria o mundo;
"Sou apenas uma, preciso-te para existir
O que seria de mim sem a escuridão,
Qual paz maior teria para uma estrela?"

À Inspiração!

Nem comecei a poesia como ”bom dia!”
Deixemos cumprimentos pra depois,
Logo que esse andamento nem se pôs
A saudade morria numa alegria.

Queria tanto este novo verso e louvo
Somente pra dizer quanto esperei,
Não minto ao responder o que aguardei
Para ser poeta a todo tempo todo.

Que me deste soneto por ser nobre,
Recebo todo verso heroico e seco.
Não desejo que seja em rima pobre

Mas nem tudo o que vem de ti prometo
Pra saber quanto o poeta luta e sofre,
Faço de ti um assunto no soneto.

Mel

De repente, tão breve se torna infinito
O gosto de seu amor, que abrasa e faz veneno,
Com tudo o coração que antes era pequeno
Encontra-se tão grande, tão forte e tão pleno!

De repente, tão breve se torna imortal
O fogo da paixão, que explode sem ruído,
Contudo, o coração que antes era perdido,
Esse agora que vai mas que não foi partido.

Mel, ontem e amanhã mas nada como hoje,
Esvazia do meu peito um grito alto de guerra
Libertando-me todo amor que nunca encerra.

Mel, ontem e amanhã mas nada como agora,
Em cada flor encontro um pouco do seu amor,
Lírios, camélias, rosas... E voa beija-flor...

Ao Menos um Som

Ao menos um som se enche de abstratos,
Grandes suaves desejos num longínquo mundo
Mesmo céu todos os dias, exilado na escuridão
Sob paisagem fingida nasce um poeta

Além de sonhos, de suas figuras doidas,
O desespero atormenta nas noites abandonadas
Num papel branco a mão não obedece
Nem pousando mais vezes nesse ritual.

Ser dono de si é um silêncio ouvido,
Seu lugar que não seja a sua casa
Onde dance sem música num teatro insepulto
Nas fileiras das mágoas, dos tédios, das dores...

Sabendo-se que um coração é um partido
Luzindo no cansaço, e ainda viver
Que está em todos os lugares, o dia de hoje
Os que ouvem saberão dizer o que sente.

Um Amor

Sufocado prazer do momento,
Bela fada seu toque me ascende
Entregado aos seus pés, assim rendo,
Minha amante então mate esta sede.
Como quero teu beijo princesa
Que é do doce sabor de cereja

Quero a noite sentir seu alento,
O seu charme de dama pedindo
Um desejo tão forte que tento
Esconder o perigo do instinto.
Abra as asas, libere seus dotes
Minha amada, que venha o deleite

Venturosa, seu garbo me tem
Como dona do amor como Vênus
Um olhar, o desejo que vem
De paixão à loucura te tenho
Fulgurante momento ao calor,
Teu consolo em meu peito, um amor.

Tua Partida

Sol aparece, ainda está frio
Um fim de tarde sem desejo,
Mesmo assim parte no teu beijo
Um dia sem hora que sumiu
Aos poucos deixa o teu sabor
Num pôr de sol que não tem cor.

Estaria longe este momento
Nem mesmo o tempo a dor levou,
Ainda contemplo o que passou
Das estações que mudam o tempo.
A tua partida me fez triste
Todo momento inda persiste!

Sonho contigo a cada dia,
A cada dia foi mais que amiga;
A melodia que faz a cantiga
Que pintou as tardes com harmonia.
Esta saudade que inda restou
Com esta tarde se unificou...

Poucas Notas

Poucas notas nesta canção
Recordando meu passado,
Por amor tinha guardado,
Deveriam sumir mas não...

Mas agora estou magoado
Em memória do passado,
Sinto dor e sufocado
No relento em ser calado.

Soa tão triste a solidão,
Toda cor sem vida ecoa;
Todo tempo passa a toa,
Deveriam sumir mas não...

Em um ritmo lento a tarde,
Noite engole o tom vermelho,
Soa-me outro tom ao vê-lo,
Nenhum som se encontra a parte.

Neste piano a minha mão
Passa um tom desafinado
E sabendo que está errado,
Deveriam sumir mas não...

Pobre Inseto!

Clara lua que jurou ser verdadeira...
Pobre inseto! Hoje a lua não se encontrava,
Nem toda luz é luz da lua que estava
E de tanto girar, cai de canseira.

Inveja o vaga-lume este coitado
Que conseguiu pegar aquela luz,
O destino talvez não faça jus,
Tem predador que fica sempre armado.

Considera fronteira a cada mundo
Os vidros que te causa confusão,
Sem destino parece vagabundo.

O perigo se encontra num trajeto!
Esta luz que lhe trouxe orientação
Coitado, foi esmagado! Pobre inseto!

Indaguem aos Ventos

Indaguem aos ventos o tempo,
Órfão dos segredos mais íntimos,
Este homem que ainda é menino
Não sabe julgar o que é certo.

Indaguem aos ventos a vida,
Aquela que veio do sopro
E sabe que o tempo de pouco
Torna-se difícil sonhar.

Indaguem aos ventos o amor,
A qual todo mundo o bem quer,
Faz de solução para a dor
Mas esta que é a causa da própria.

Indaguem aos ventos o mundo,
Este que se torna maior
E mesmo que digam o inicio
Nunca saberão o seu fim.

Indaguem aos ventos a paz,
Sacrosentimento amistoso,
Se novos dias cercam o mundo
Em qual direção seguiremos?

Ode à Sofia



"En toi je tomberai, végétale ambroisie,
Grain précieux jeté par l’éternel Semeur,
Pour que de notre amour naisse la poésie
Qui jaillira vers Dieu comme une rare fleur."
- C. Baudelaire, L'âme du vin


Numa noite de estrelas, o Hipnos tocou minha alma melancólica
Já sabemos que o sonho são imagens da mente e consciência simbólica
É tal matéria-prima da imaginação, tem como lapidar
E quem guia o coração, a paixão e a razão tem que se equilibrar
Que seja ouro ou diamante, o último será o primeiro, eis o amor
Luz da vida, transcende qualquer seja a forma, até mesmo o seu autor

Como deves saber, este é o meu monólogo com as estrelas
“Ora, ouvir estrelas?” O poeta sabia! E só é triste não vê-las
Mas em sonhos estou entre elas, pois de lá que veio a minha essência
Compõem meu corpo sólido, e atravessou o tempo em sua fluência
Pois veja o que sou agora, uma coisa do mundo de certa maneira
Quão tão longe estou, que produto afinal reflete a mesma inteira?

Deito-me eternamente em seu berço esplêndido por sua natura
E peço o teu consolo, ó mãe desconhecida me tire a tristura,
Um grão filho, um rei sem coroa, ainda menino, o velho peregrino
Entoa a canção dos bardos, e dos trovadores o perdido hino
Nem tão longe da vossa graça, nem tão perto de vossa beleza
Apresentou-a de si mesma, amada Sofia, sua própria natureza

Fiz da minha alma a tua morada, o seu castelo, o nosso lar poético
Então que seja idílico ou seja punk, natural ou sintético
Aqui já não jaz morto, som de magia, jazz e valsa, ou de boleros
Tal noite negra Orfeu tocou um blues, e fez a bossa nova de Eros!
Porém, já muitos sóis eram passados, hoje então navegaremos
Por sonhos nunca antes devaneados, sobre as númens passaremos

O teu mundo é tão grande, e o meu tão pequeno, Sofia o que somos?
Por isso fui a Pasárgada, infeliz estava eu preso sob os domos
Pois voltei de lá rei, depois que descobri o paraíso inventado
Reflexo do jardim criado por estética e mito passado
Para o alto Parnaso depois eu parti, e as musas visitei
Que inspiraram as virgens, tal como Apolo criei um jardim que fitei

Da fonte de Castália bebi, e de ouvir apenas me inspirei
Mergulhei em tuas águas, e olvidei das mágoas as marcas que deixei
Com a lira de Apolo um legado pra Orfeu, pois quem canta compõem
Quem compõem há de ter um espírito poético assim como Poe
Assim como o sol se põe, do outro lado ele nasce, do oriente ao poente
Pois rio que nasce ouro, pela noite à luz do poeta é latente

Ouro e boro de igual ao de mercúrio doce também já tomei
Sobre a lua argentada lucífera torna a si com lauras rei
Da taça dionisíaca o louco se faz torto dentro dos espelhos
Sangra ao vinho o alquímico processo real de tons azuis vermelhos
De sua força a coragem de um leão que do ruge o céu fora azulado
Serpenteia o destino da orbe amarelada com véu esverdeado

A chegada da noite que anuncia os fios que tecem estrelares
Vem Sofia! O teu amor com os meus olhos ter o bel-prazer lunares
A paz que consegui através da tua alma mater inebriante
Aconchegar em braços de ninfa, carícias de uma doce amante
Receba-me ao encanto, aos toques de afagos no âmago de ser
E quem ama não teme nem a escuridão e nem teme morrer

Com chocolate, vinho e mel tua rubra veste alegra como delícias
Sabedoria estimada, ser da intimidade que me traz carícias
Que preza a real bondade erotídeas, e bebe ares ao qual liberta
Apaixonadamente inspirada com mil rosas é a tua coberta
Vem incerta ao amor que se autodescoberta para quem desperta
Então não desespere porque a primavera será descoberta

Assim como Calímaco conta em seus hinos, temos jardineiras
Estas nascem das árvores, são hamadríades as nossas floreiras
Anunciam com tamanha alegria a primavera em sua festa chegada
Com seus jogos florais e píticos em tua homenagem amada
Dispersam prantos quando da queda das folhas, assim despetalam
Formam forros macios quando nós dois deitarmos elas vêm e badalam

Coração marca o tempo como as notas aéreas de Bach palpitaram
Ao balé dos gracejos das sílfides, curam dores que passaram
Nos afetam orvalhos que fulguram asas da imaginação
Gotas de chuvas feitas de hidromel que caem, e confunde a razão
Vinde o maná da vida, o secreto elixir em lazúli e rubi
Pedra filosofal dos amantes, das doces amritas bebi

Ao teu lado Sofia, minha imensa alegria, sejamos almas gêmeas
Nosso jardim tão belo com todas as flores, com todas as gemas
E com todas as cores, a nossa simbólica seja octarina
Façamos dessa história o arquétipo áureo do amor qual destina
Tenhamos mais que mil e uma noites devir em nossa eterna flor
Assim seja no céu e na terra ligando estrelas ao esplendor